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Para formar líderes, programa leva profissionais à escola pública

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Por Vinícius de Oliveira
Do Porvir
28/7/2017

Com a proposta de formar líderes que conheçam o contexto da escola e a realidade de sala de aula para colocar em prática ações transformadoras capazes de reduzir desigualdades na educação, o programa da ONG Ensina Brasil leva jovens profissionais para atuarem em escolas públicas brasileiras. A iniciativa segue o exemplo da rede Teach for All, presente em mais de 40 países, sendo 10 deles na América Latina.

A primeira turma é formada por 55 integrantes que trabalham como professores temporários nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Antes dos jovens chegarem até as escolas, os governos tiveram que firmar uma parceria com a organização e usaram como base a emenda constitucional 85 de 2015, que estimula políticas de inovação e simplifica mecanismos de cooperação entre a administração pública e entidades privadas.

Segundo Erica Butow, fundadora e presidente-executiva do Ensina Brasil, o trabalho em sala de aula é apenas o primeiro passo no processo de formação. “Uma vez que você se torna professor e tem contato com a educação pública e as reais necessidades dos alunos, chega à conclusão que a educação é algo muito complexo”, explica Erica. E dada essa complexidade, o programa busca mostrar que para as soluções ganharem escala, a educação não pode ser papel de alguns super heróis. “Se o professor consegue ter um impacto positivo com seus alunos é porque existe todo um sistema por trás”.

“Uma vez que você se torna professor e tem contato com a educação pública e as reais necessidades dos alunos, chega à conclusão que a educação é algo muito complexo”

Para selecionar os ensinas, como são chamados os participantes, foi realizado um processo seletivo que contou com 3,3 mil candidatos avaliados segundo critérios como empatia, resiliência, comprometimento, resolução de problemas, habilidades interpessoais, orientação a altas expectativas e alinhamento com visão, valores e missão do programa. Uma vez dentro da rede, os participantes passam por formação pedagógica e desenvolvimento de liderança, que começa com 300 horas dedicadas a teoria e prática de sala de aula.

O trabalho preliminar também inclui a visita às escolas localizadas em regiões vulneráveis, para que o profissional entenda o contexto em que vai dar aula. Ao longo dos dois anos da formação também é oferecido acompanhamento de tutores nos moldes de uma “residência pedagógica”. Segundo Érica, a metodologia é pensada para que depois do processo esses profissionais continuem a atuar na educação, seja em posições nas escolas, no governo ou no empreendedorismo social.”É isso que acontece em outros países e que fazem parte da rede Teach for All. Mais de 50 mil participantes já passaram pelo programa e dois terços deles permanecem trabalhando em educação, alguns deles como professores, mas a grande parte em outras esferas”, diz.

No Mato Grosso do Sul, a secretária de educação Maria Cecília Motta diz que a chegada de 19 ensinas a sete escolas de ensino médio representa um “up” para a profissão ao atrair o interesse de profissionais de outras áreas. “Conversei com diretores das escolas e os meninos, que disseram ter sido muito bem aceitos. Sempre acho salutar ver uma pessoa entrando numa escola com muita garra”, afirmou a secretária.

Para o secretário de educação de educação de Mato Grosso, Marco Marrafon, o programa cria “bolhas de inovação” dentro da rede e não compromete processos regulares de contratação de docentes. “O Ensina não é um substitutivo de professores. Temos um processo seletivo para suprir as vagas dos que estão em licença ou em período de qualificação para mestrado ou doutorado”, diz o gestor, que ainda vê benefícios por permitir a estudantes conhecerem “novos sotaques” em Cuiabá.

A falta de integração com a comunidade, no entanto, é uma das críticas que o programa recebe em sua vertente americana, o Teach for America. Nos EUA, em alguns distritos escolares existe uma alta taxa de abandono de professores e atritos com gestores locais. Érica rebate a comparação e diz que este exemplo não pode ser usado como parâmetro para a iniciativa brasileira. “O Teach For America é só um entre os 45 países da rede. Ele é o mais antigo, o mais conhecido e o maior. De forma geral, é importante deixar claro que em nossa visão não dá para abrir franquias McDonald’s em educação, porque ela parte de um contexto e de uma realidade dos alunos”, argumenta.

Parcerias com startups

Durante o trabalho com as duas secretarias de educação, os participantes do Ensina Brasil também têm a oportunidade de trocar experiências com outras redes, como é o caso da Vetor Brasil, que reúne jovens interessados em inovar no setor público. Em um curso oferecido pelo Insper, jovens podem entender as dinâmicas de poder, engajar pessoas e alcançar objetivos profissionais.

Em outros casos, como no caso da plataforma Eduqmais, os ensinas apoiam o piloto que oferece gratuitamente para as escolas a ferramenta de comunicação com os pais para estimular sua participação nos estudos dos filhos.

Novo processo seletivo

O Ensina Brasil está com processo de seleção aberto para sua segunda turma. O prazo de inscrição vai até 25 de setembro. A formação online começa em dezembro e, em janeiro de 2018, tem início a formação presencial.

Entre outros requisitos, é necessário ter disponibilidade para morar fora da cidade de origem por dois anos, a partir de fevereiro de 2018.

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